MC Marcinho dribla as agruras da vida e revoluciona o funk ao gravar DVD com banda

Marcinho já foi famoso, mas viu sua carreira ter uma baixa quando o funk erotizado passou a dominar os bailes e as pistas de dança do Rio de Janeiro. O MC não desistiu. Fez muitas viagens de ônibus para estúdios de gravação, estúdios de DJs e empresários. Chegou a trabalhar no setor administrativo de um hospital. Quando estava no auge da carreira, depois de explodir com “Glamurosa”, aí foi sua vida que teve uma baixa. Em um acidente de carro, Marcinho quase morreu. Em 2008, dois anos depois, largou as muletas e revolucionou o funk gravando, acompanhado de uma banda, o DVD “MC Marcinho – Tudo é Festa”. O trabalho chega às lojas agora, depois de mais um capítulo sobre as dificuldades da vida: desta vez, dizia respeito a liberação de fonogramas. Depois disso tudo, Marcinho sorri e confessa que vive talvez a melhor fase de sua vida. Mais voltado para sua religião, quando não está no palco, o funkeiro do bem se dedica à família. Confira a entrevista que Marcinho deu ao GarotaFM:

Como surgiu a vontade de gravar esse que é o seu primeiro DVD?

Esse DVD foi uma ideia da Lidiane Madureira, nossa produtora musical. Ela sempre teve essa vontade de colocar músicos para me acompanhar, para tocar comigo. Ela achava que dava para fazer essa junção de funk com músicos tocando. Só que eu tinha medo de fugir muito da essência do funk. Ela continuou amadurecendo a ideia, mas eu estava debilitado, tinha voltado do acidente e estava fazendo show de cadeira de rodas ainda. Aí ela falou: “Cara, vamos lançar um DVD! A hora é agora! Agora que você já consegue se levantar e está conseguindo se libertar um pouco das muletas.”E eu falei: “Vambora”.

Daí começamos a agitar o DVD e ela disse: “Vamos colocar um violão aí.” Colocamos o violão. Depois ela falou: “Dá para colocar um sax!” Aí colocamos o saxofone, o teclado e uma percussãozinha, que ela disse que ficaria legal também. Quando vi, a galera já estava toda formada e a gente conseguiu fazer essa junção do DJ com o tambor e a banda acompanhando atrás, colocando só aquilo que justamente o DJ fazia no estúdio. Para gravar esse DVD ao vivo, foi uma emoção tremenda. Quando eu vi aquele monte de gente… eu tinha vindo de um acidente eu não imaginava que as pessoas tinham um carinho tão grande assim por mim. O Circo Voador lotado, todo mundo cantando minhas músicas… foi um momento mágico pra mim, que estava pra baixo. Foi o que me deu aquela injeção de ânimo pra eu poder continuar, porque eu vi que muita gente gostava de mim e o DVD ficou maravilhoso!

E por que levantou tanto tempo pra sair o DVD?

Tivemos problemas com edição, liberação de músicas. Algumas mais antigas tinham sido editadas em editoras que não queriam liberar as músicas para sair no DVD. Aí, começou toda a nossa luta e eu agradeço muito à EMI. O DVD foi gravado em 2008. A gente deu a proposta para a EMI em 2009, mostramos o DVD e eles ficaram encantados com o trabalho e resolveram lançar. Só que tivemos problemas com as liberações. Mas em momento algum a EMI desistiu. Eu é que já achava que nem ia sair mais… Já ia completar três anos que gravamos e, com muito custo, conseguimos.

O povo tinha esse preconceito de falar que a EMI não era funkeira. Eu disse: “Gente, não se trata disso, estamos falando da minha carreira, do meu DVD, da minha vida. Vocês estão pensando em vocês e estão esquecendo de mim.” Eles começaram a refletir e acabaram liberando. Aí, depois de três anos, graças a Deus, o DVD saiu. As pessoas já estavam me perguntando: “Cadê o DVD?”.

Você já tinha algum disco lançado por gravadora multinacional?

Não, por uma multinacional não. Eu tive pela MIC, que é a gravadora do Marlboro, e pela Furacão 2000 Records, mas por uma multinacional é a primeira vez.

Você quase colocou uma barreira na história da banda. Agora que se apaixonou, vai carregá-la com você?

Agora eu não consigo mais largar minha banda (risos).

Você toca algum instrumento?

Não, eu só arranho um pouquinho de violão. Eu tenho que aprender a tocar!

E a turma do funk aceitou essa história da banda?

Na verdade, meu medo era esse. Só que aconteceu o contrário: as pessoas aderiram bem isso porque a gente não tirou a essência do funk, a gente só musicalizou o funk. A gente não tirou a batida do tambor nem aquela coisa do “funkão”, não. A galera achou muito legal e, hoje em dia, faço show com a banda mesmo se tiver que reduzi-la. Nesses casos, baixo e violão estão sempre comigo, pra poder dar uma musicalidade na parada. Eu me amarro. Se todo mundo fizesse isso, ia ser muito bom pro funk. Hoje em dia, o Sapão faz a mesma coisa e o Léozinho, também. As pessoas estão tentando fazer com que o funk tenha uma imagem melhor porque a galera vê o funk como fim de festa, todo mundo já doidão. Mas a gente tem que ver também que o funk tem música, tem uma letra e que é legal de se curtir, não é só vulgaridade e baixaria.

E as participações?

As participações foram uma benção. Sandra de Sá foi minha adolescência todinha… Eu cresci ouvindo Sandra de Sá. Foi um sonho realizado gravar “Tem Que Acreditar” com ela! Flávia Santana cantando comigo em “Quer Casar Comigo, Amor?” também foi um presente maravilhoso, porque eu já era fã quando ela cantava com o Belo e, quando surgiu o convite, ela aceitou. Mirian Martin também veio gravar comigo “Olha Pra Mim”. E o restante são meus amigos, sem palavras… Sapão é fora de sério, cantou “Hino Funkeiro” comigo. Ele chega num lugar e ilumina o ambiente, faz todo mundo rir. Mc Bob Rum, cantamos juntos em “Zona Oeste 2”, é parceria que já faz mais de dez anos. E foi só felicidade poder gravar com a minha filha o clipe “Pra Ver Se Cola”. Eu paro e penso: “Eu poderia ter morrido naquele acidente, mas Deus me deu outra oportunidade de estar vivo e de poder compartilhar com minha filha uma música, de ver ela crescendo, de ver meus filhos participando do clipe. Só tenho a agradecer a Deus”.

Você já era evangélico antes do acidente?

Sempre fui evangélico, mas eu era um evangélico que acreditava em Deus, mas não ia muito a igreja. Minha mãe sempre foi evangélica, sempre falou de Deus para mim e sobre o caminho que eu deveria seguir. E tem pessoas que são fanáticas, mas eu não prego a religião, eu prego Jesus Cristo. Deus que me tirou daquele acidente.

Você pretende lançar um CD Gospel e deixar o funk?

No momento eu não pretendo fazer isso. No dia em que eu for gravar um CD Gospel, tenho que largar o funk e me dedicar somente à musica gospel, porque as duas coisas acabam confundindo a cabeça das pessoas. Podem falar: “Esse cara aí canta gospel ou música secular?”. Esse clipe que eu fiz de “Deus É Fiel” é um agradecimento a Deus, pode ver que a letra fala das coisas que eu vivi. Eu mentia, eu ficava bêbado, fazia coisas terríveis e hoje não faço mais isso. Eu falo que Deus me mudou. Então, aquilo foi mais que um agradecimento. Mas o pensamento de gravar um CD gospel, no momento, não tenho. Eu deixo Deus trabalhar. Se for da vontade dele eu gravar um CD gospel, pode ter certeza de que vou gravar. Mas aí não vou mais estar cantando musica secular.

Mas será que não dá para misturar e fazer um som gospel?

Você pode até fazer um funk gospel, mas eu não posso estar no mundo secular. As duas coisas não batem. Música secular é música do povão que não fala do evangelho.

Mas essa questão não está mais na letra? O ritmo não pode ser qualquer um?

O ritmo pode ser qualquer um, o problema é a postura que você vai ter. Eu posso até fazer um funk Gospel, mas não posso fazer um show metade funk gospel e metade dedicado a músicas como “Glamurosa”.

As pessoas já sugeriram que parasse de cantar funk?

Muita gente fala, mas minha parada não é com homem, é com Deus. A hora em que Deus me mostrar que tenho que parar, eu vou parar. Não vou parar por pressão de um ou de outro. Vou continuar indo para a Igreja, porque não tô indo lá para buscar o homem. Vou para buscar Deus.

O que você tem escutado ultimamente?

Tenho escutado muita música gospel. Aline Barros, Fernanda Brum… Quando não é isso, escuto Roberto Carlos, Beyoncé… Sou um cara que escuta de tudo. Sou bem eclético.

‘Casinha Branca’ é uma música muito antiga. Por que escolheu essa para regravar em seu DVD?

Foi uma música que marcou minha vida na época em que eu era criança. Coisas do passado… Quando a gravei, fiquei muito feliz porque foi mais um sonho realizado. Tem axé também. Tem “Dinagô”, da Banda Mel. Ficou muito maneiro também!

Quando entrou a fase do funk erotizado, você achou que perdeu espaço? O que fez para reverter essa situação?

Olha, eu passei um bocado… Meu empresário disse: “Tá difícil de fazer show. Se você não fizer alguma parada, vai ficar difícil.” Eu falei: “Nada pessoal, nada contra, cada um com seu cada um. Cada um cante como quiser e responda pelos seus atos. Mas, se for para eu cantar essas paradas, prefiro parar.” Não sei cantar isso. Não tem a ver com minha índole, minha essência. Começamos a bater de frente e ele saiu fora. Aí eu falei: “O que eu vou fazer da minha vida agora?”

E o que você fez?

Sozinho, fui a estúdios pedir para os DJs tocarem “Glamurosa”. Ninguém queria tocar. Fiz um CD independente e comecei a distribuir fora do Rio de Janeiro. Conheci o Elton Madureira, que virou meu empresário, e ele falou: “Vamos expandir essa parada.” Comecei a receber convite e a viajar fazendo show. A galera daqui ia tocar fora do Rio, via que o pessoal pedia “Favela” e “Glamurosa”, e aí começaram a abrir os olhos pra isso. Os DJs hoje em dia me respeitam porque consegui sobreviver sem eles. Nenhum pode dizer que foi por causa dele que voltei às paradas. Logo depois, Furacão 2000 lançou “Marcinho 10 anos” no ano de 2000 e foi um sucesso. A partir daí a elite me abraçou tremendamente.

A Furacão tem seus artistas, Marlboro tem os dele… Você nunca ficou atrelado a um grupo?

Não, nunca fiquei preso a ninguém. Sempre achei que você tem que fazer aquilo que gosta, tem que estar bem no ambiente em que trabalha. Por isso nunca quis ter uma dupla. Se errar ou se eu acertar, fui eu que fiz isso e não tenho que culpar ninguém. Não tenho vínculo com ninguém nem inimizade com ninguém. Se a Furacão me ligar, eu vou. Se o Marlboro me ligar, eu vou também.

* Com Christina Fuscaldo

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