Matéria publicada no blog da Melody Box em 04/08/2011 (clique aqui para ler)
A Bahia sempre se destacou por ser o estado do Nordeste que mais divulga seus músicos e compositores. Desde Dorival Caymmi até Raul Seixas, passando por João Gilberto e pelos tropicalistas, vários estilos tiveram seus representantes na mídia (e palcos) de todo o Brasil ao longo dos tempos. Da década de 90 para cá, a axé music ofuscou todo o resto de música que se fazia na Bahia, permitindo somente Pitty ultrapassar essa barreira. Mas, ultimamente, as cenas pop e rock da Bahia voltaram a chamar a atenção e seus novos expoentes começaram a ganhar espaço. Na semana passada, oito bandas baianas ocuparam posições de destaque no ranking da Melody Box: Maglore, Zé Chico, Velotroz, Rubra, Pirigulino Babilake, Vendo 147, Truanescos e Os Barcos. Não necessariamente elas, mas duas atrações de lá podem concorrer a vagas para tocar no MB Ao Vivo, nos dias 3 e 4 de setembro, na Concha Acústica de Salvador. O festival terá shows de Móveis Coloniais de Acaju, Karina Buhr, Ronei Jorge e Maglore.
“Nos deixa bem felizes saber que essas bandas estão no ranking . Tem muito mais por aqui. A cena baiana está borbulhando. O que tem havido é um despertar desses artistas para o novo formato de mercado e de relações que vem se formando. A Melody Box caiu como uma luva nos nossos planos. E a ideia de sair da tela do computador para os palcos através do MB Ao Vivo deu a credibilidade que faltava às outras redes”, diz Pietro Leal, cantor e compositor da Pirigulino Babilake.
As portas voltaram a se abrir depois que foi reconhecida a democratização dos meios de comunicação e de divulgação de trabalhos através da internet. Tudo bem que na rede a oferta é vasta e é preciso garimpar para descobrir o que de bom tem lá. Mas, quando oito bandas figuram uma mesma lista de nomes em destaque, é porque elas alcançaram seu objetivo: fortalecer uma cena.
“Hoje você tem acesso a pessoas de todo o Brasil igualmente, e as bandas baianas tem usado estas ferramentas de maneira brilhante. Temos várias bandas do nosso estado com forte público conquistado via internet e que, quando saem para circulação em outros estados, recebem todo o feedback desta divulgação online. E a Bahia está passando por um momento todo especial na música autoral. Está se formando naturalmente um movimento fortíssimo de bandas com a proposta de resgate da criatividade e reinvenção da música baiana, em especial, o rock”, diz Fernando Bernardino, guitarrista da banda Os Barcos.
A Zé Chico é um exemplo de banda que nem fez show aberto a público ainda e já está bombando na rede. Ao contrário dela, a Velotroz saiu dos bares de Salvador para se apresentar em cidades vizinhas, como Vitória da Conquista, Cachoeira e Feira de Santana. Para seus integrantes, o segredo do sucesso dessa nova cena é simplesmente a novidade.
“O axé está estagnado. Não tem nenhuma novidade nem o frescor que encontramos, por exemplo, nessa nova geração de bandas da qual fazemos parte. Nunca se viu tantas bandas diferentes e tão boas produzindo tanto material, tanto em quantidade quanto em qualidade. Nada contra o axé, que já nos divertiu muito e nos inspira demais. Chiclete com Banana, Luís Caldas, Ivete Sangalo e Daniela Mercury fazem jus ao status que alcançaram. Mas não entender o que está acontecendo é burrice”, afirma Tássio Carneiro, tecladista e guitarrista da Velotroz.
Ter dois vocais principais à frente, um masculino e um feminino, é o diferencial que faz da Rubra uma banda já popular no circuito underground de Salvador. Para a vocalista e guitarrista Amanda Torres, a Bahia precisa de mais investimento em produções.
“Falta investimentos em casas de shows de qualidade. A cena de rock baiana é muito intensa e as pessoas, de certa forma, são carentes de bons eventos. Com certeza Pitty foi um marco, pois ela conseguiu vencer toda essa carência que existe na Bahia em relação ao rock”, diz Amanda.
E olha que tem um público forte em Salvador até para quem faz música instrumental, que é sempre mais difícil de atrair mídia, porém fácil de formar tribos. Formada por duas baterias, uma guitarra e um baixo, a Vendo 147 não está ainda na grande mídia, mas é conhecida na rede e nos bares de Salvador.
“Como somos uma banda de música instrumental, não sentimos esse lance de tribo. Fazemos música para um público variado, que pode ter idade entre 3 a 120 anos”, diz Dimmy “O Demolidor” Drummer.
Para Noblat, guitarrista e baixista da banda Zé Chico, a influência dos grandes veículos de comunicação de massa é o que atrapalha no desenvolvimento da cena:
“A mídia influencia muito a visão de quem não é da Bahia. Temos o carnaval e todas essas festas onde reinam o axé e o pagode e que são transmitidas pelas televisões e veículos de grande porte. Mas o cenário independente da Bahia é forte e grandes iniciativas como a Melody Box provam nosso valor e mostra que não precisamos nos adaptar a uma cultura popular para provar que temos qualidade.”
Sem preconceitos! E o mais legal é que, mesmo dentro dessa cena que está se formando, não há disputa. Pelo contrário: uma dá força para a outra.
“Adoramos a música baiana! Somos fãs do que é feito aqui. Desde Caetano e Gil, passando por Luiz Caldas e Novos Baianos. Gostamos muito também do cenário atual que tem grandes nomes como a Suinga, Enio e a Maloca, Ronei Jorge e por aí vai! O interessante é que ultimamente tem surgido (ou passamos a ter acesso a) boas bandas também do interior do estado, a exemplo d’ Os Barcos, de Vitória da Conquista, que lançou o primeiro disco recentemente e vem desenvolvendo um bom trabalho na capital”, diz Leo Brandão, tecladista e guitarrista da Maglore.