Primeiro trabalho de Nasi depois da briga com o Ira! privilegia nomes do underground e mostra que o Wolverine brasileiro está ‘Vivo na Cena’

Posted by Chris Fuscaldo Category: Entrevistas Tag:

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Três anos depois do barraco público com Edgar Scandurra, também fundador da banda Ira!, Nasi volta ao mercado discográfico com “Nasi Vivo na Cena”. É a estreia do “Wolverine brasileiro” em DVD e o renascimento de um novo artista, que agora não só gosta, como toca de Raul Seixas a João Bosco, privilegiando nomes da cena underground de todos os tempos. No novo trabalho, além de homenagens a velhos amigos e parceiros, como Cazuza e Picassos Falsos, e músicas de várias fases do Ira!, Nasi levanta a bola de novatos como Ludov, Eddie e The River Raid. No “show” gravado em estúdio, há participações de Vanessa Krongold, vocalista do Ludov e Marcelo Nova, entre outros. Aos 48 anos, Nasi tem hoje uma média de shows parecida com a do Ira!, diz estar satisfeito com a banda que montou e afirma que só não fala “melhor impossível porque sempre dá pra melhorar”.

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GarotaFM: No release (texto de apresentação enviado junto ao CD para jornalistas), Kid Vinil diz que você dá uma “verdadeira aula de rock’n’roll e suas vertentes”. Quais são as vertentes que sempre te atraíram?

Nasi: O rock clássico dos anos 60 e 70, como Stones, Beatles, Led Zeppelin, The Animals, tudo da primeira fase da invasão britânica. Depois, o punk rock inglês, The Jam, Sex Pistols e principalmente The Clash. Os grandes nomes do blues também. Nunca fiz muita distinção, porque os caras de que gosto tiveram no blues a sua essência. No Ira! é que isso complicava, porque às vezes queria algo mais negro e não conseguia inserir.

GFM: Por que resgatar Zé Rodrix (“Por Amor”) e João Bosco (“Bala com Bala”)?

N: Esse é meu primeiro trabalho em DVDe ele veio num momento de final de ciclo e início de outro. É um panorama da minha carreira, mas só com coisas que eu curto. Eu quis gravar João Bosco para introduzir um estilo de blues de que gosto, aquela coisa meio New Orleans. Pra também não ficar só no didatismo do trabalho de blues, trouxe coisas do Ira! e coisas do início da minha carreira.

GFM: Por que regravar bandas da cena underground dos anos 80, como Picassos Falsos (“Carne e Osso”), Muzak (“Onde Estou?”) e Voluntários da Pátria (“Verdades e Mentiras”)?

N: Para lembrar o estilo de música e retratar o cenário no qual o Ira! nasceu. Éramos uma banda pós-punk, com influências dessas outras bandas. Mas essa fase que durou de 1982 a 84 não teve registro fonográfico. Quando estreamos na (gravadora) Warner, em 85, já era uma nova fase do Ira! Optamos por uma sonoridade mais anos 60, mais lírica. Por isso quis o registro de uma época.

GFM: Por que gravou ‘Rockxixe’? Você também cansou do ‘Toca Raul’ em seus shows?

N: Já toco Raul antes de eles pedirem! Participei de vários tributos… Estou no projeto Baú do Raul, por exemplo. Em 2009, como foi o ano da comemoração dos 20 anos da morte dele, fiz o (álbum) “Krig-Ha Bandolo” na Virada Cultural de São Paulo. E venho fazendo sets de homenagem nos meus shows. Nesse disco, caberia essa homenagem. E ainda juntou eu e Marcelo Nova, pois temos muita amizade. Dizem que somos os últimos vira-latas do rock num mar de poodles.

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GFM: E essa queda por nomes ‘novos’, como Ludov (Vanessa Krongold participa em “Por Amor”), Eddie (“Desequilíbrio” e “Eu Só Poderia Crer”) e The River Raid (“Não Caio Mais”)?

N: Dentre todas as coisas que ouvi, gostei muito do último trabalho do Eddie, “Carnaval no Inferno”, mas também já ouvia muito a música do Fred Zero Quatro (“Eu Só Poderia Crer”), gravada no primeiro disco do Eddie. Quando você ouve e fala “quero gravar ela”, tem que ser assim. Com o Ludov, sempre tive proximidade. Vanessa (Krongold, a vocalista) deu várias canjas com o Ira! De maneira racional, mas não tanto intuitiva, construí uma cena do underground dos anos 80 ao independente de várias fases. Raul e Cazuza (“O Tempo Não Para”) não deixa de ser parte desse panorama do rock brasileiro.

GFM: De onde surgiu o nome de Roy Cicala (engenheiro de som)?

N: Ele se mudou para o Brasil por conta de uma filha brasileira e acabou gostando de São Paulo. Montou um estúdio com Apollo Nove, que produziu comigo meu último disco solo. Gravei com eles uma versão de “Epitáfio”, dos Titãs, para a novela “Chamas da Vida”, da Record. Acho que foi o projeto ideal porque a especialidade dele é a gravação ao vivo. E ele quebrou paradigmas. Eu não poderia ter um engenheiro melhor!

GFM: O DVD tem um tratamento meio que de cinema. Parece filme.

N: Foi uma escolha minha junto ao diretor (equipe da Reticom Filmes). Já trabalhei com eles antes. Chamei já com essa ideia de fazer uma iluminação de show. Eu queria que tivesse nuances entre as músicas, para não ficar monótono. Procuramos, então, usar uma luz mais sofisticada, fumaça contra luz, efeitos cinematográficos, tonalidade sépia etc. A ideia era que, a cada mudança de faixa, houvesse uma mudança mesmo. Tem clima intimista em algumas delas, com edição mais lenta, por exemplo. Tudo foi pensando em não deixar o produto final linear demais. Criamos climas diferentes e sons diferentes também.

GFM: Este é seu primeiro DVD desde a confusão entre você e o Ira! E o nome é bem sugestivo, “Nasi Vivo na Cena”. O que isso tudo representa para você?

N: Nunca digo “melhor impossível” porque sempre dá pra melhorar. Estou com uma média de shows próxima à media do Ira! Consolidei uma banda, depois de alguns testes de músicos, e quero que seja definitiva. Não quero ficar fazendo discos com músicos contratados, com produtores autorais… Sei o que quero agora. Tenho experiências em produção, já produzi em parceria alguns discos do Ira! e os meu solos. Estava me sentindo limitado num trabalho consensual demais. Tudo era muito dividido. Não que eu não deixe os integrantes da minha banda participar com sua marca. Mas tudo passa pelo meu critério e decisões. Eu só não queria que o Ira! Acabasse para isso, mas eu já objetivava esse projeto solo. Já que aconteceu dessa maneira, acho positivo privilegiar meu futuro. Quero olhar pra frente e conquistar outros desafios.

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