Uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, Ithamara Koorax faz temporada no Rio

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Uma das artistas brasileiras de maior sucesso fora do país, Ithamara Koorax vai passar janeiro matando a saudade de casa. A cantora aterrissa no Bar do Tom, onde faz temporada do dia 2 ao 30. Os shows são sempre na sexta e no sábado, exceto neste fim de semana de estreia, no qual ela canta sábado e domingo. Apresentando o show “Bim Bom World Tour”, a cantora vai mesclar clássicos com canções do seu 12º álbum, “Bim Bom”, um tributo a João Gilberto que ganhou resenhas com boas cotações no jornal New York Times, nas revistas JazzTimes, Cashbox e Billboard e no site All Music Guide. “Human Nature” (Michael Jackson), “Got To Be Real” (Cheryl Lynn) e “Aviso Aos Navegantes” (Lulu Santos) estão no roteiro. Ithamara Koorax garante que vai oferecer aos cariocas tudo o que ela costuma dar aos seus fãs fora do Brasil. Leia entrevista com a estrela do jazz, eleita, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo pelos leitores das revistas DownBeat, Swing Journal e Jazz People – ao lado de Diana Krall e Cassandra Wilson.

GarotaFM: Por que a decisão de fazer um disco tributo a João Gilberto?

Ithamara Koorax: Conheci João Gilberto através de “Canção do Amor Demais”, de Elizeth Cardoso. Meus pais adoravam o disco e eu cresci ouvindo aquelas músicas. Conheço de cor todos os arranjos do Tom Jobim. Por sincronicidade, quando iniciei minha carreira profissional, em 1990, Elizeth se tornou minha madrinha artística. Depois o Tom gravou comigo em 1994. E agora eu celebro meus 20 anos de carreira reverenciando o João!

A idéia é antiga, apenas foi sendo atropelada por outros projetos. Mas tenho certeza que se concretizou na hora certa e com o parceiro certo, o guitarrista mineiro Juarez Moreira, que também sempre foi apaixonado pelo João. A prova de que acertamos na mosca é o fato do CD estar sendo unanimemente aclamado nos EUA, na Europa e na Ásia, com resenhas maravilhosas no New York Times, nas revistas JazzTimes, Cashbox e Billboard, no All Music Guide etc. E ainda me fez ser votada, pelo segundo ano consecutivo, uma das três melhores cantoras de jazz do mundo, segundo os leitores da DownBeat.

O João é a última lenda-viva da música brasileira. Depois de eu ter trabalhado com gênios como Tom Jobim, Luiz Bonfá, João Donato e Hermeto Pascoal, era natural que eu me aventurasse pela obra autoral do João – jamais gravaria um tributo ao “João intérprete”, porque seria ridículo tentar imita-lo, inclusive porque várias pessoas já fizeram isso e os resultados sempre foram medíocres.

Pela primeira vez, todas as composições do João estão reunidas em um disco. E, é bom frisar, não é um disco de bossa nova. Tem bossa, mas também tem baião (“Undiú”), valsa (“Bebel”), bolero (“Hoba-Lá-Lá”), samba-canção (“Você Esteve Com Meu Bem?”), latin-jazz (“Acapulco”) etc.

GFM: Como é ser aclamada fora do Brasil e como é sua relação com a crítica brasileira?

IK: Em janeiro de 1990, quando fiz meu primeiro show como cantora profissional, eu era uma ingênua, não acreditava em maldade nem em inveja. O engraçado é que, quando você está começando, todo mundo apóia, dá força. À medida em que você vai progredindo e conquistando espaço, muita gente começa a sentir inveja. E começam as rasteiras, começa um “jogo sujo” muito feio. Meu relacionamento com a imprensa brasileira em geral é excelente, é importante frisar isso. Com grande parte da crítica músical, formada por historiadores veteranos como Tárik de Souza, Roberto Muggiati, Carlos Calado e Sergio Cabral, também. Mas com a turminha de segundo escalão da crítica musical, que está na profissão apenas para usufruir das bocas-livres, beber chope de graça nas estréias e revender nos sebos os CDs que recebe, começa o problema. Este pessoal, recalcado e invejoso, tem verdadeiro ódio de quem faz sucesso no exterior. Infelizmente é uma coisa muito triste, uma atitude ridícula e vergonhosa que prejudica a carreira de muita gente no Brasil, inclusive a minha, porque NADA do que fazemos e conquistamos internacionalmente é noticiado ou valorizado na imprensa nacional.

O Tom Jobim, que passou a vida inteira sendo acusado de “americanizado”, só foi “absolvido” depois que morreu precocemente e de forma trágica. A única outra forma de obter perdão é voltando pobre ou doente para o Brasil. O Sergio Mendes, por exemplo, como fica cada vez mais rico, é cada vez mais odiado aqui, quando deveria ser aclamado como um Pelé da música, como um Ronaldinho. “Bim Bom” não será lançado no Brasil, mas isto não me entristece. Pelo contrário, até dá um alívio porque pelo menos sei que o disco não será esculhambado pela crítica (rssss). É incrível mas, à medida em que meu sucesso aumenta no exterior, a crítica musical carioca mais me trata de forma vil e desrespeitosa. Mas não levo para o lado pessoal. Foi assim com Luiz Bonfá, Laurindo Almeida, Eumir Deodato, Walter Wanderley. Ainda é assim com Sergio Mendes, João Gilberto, Airto Moreira e Flora Purim. Por que seria diferente comigo?

GFM: Como se sente comemorando 20 anos de carreira em palco carioca?

IK: Muito feliz, claro! Amo meu país e adoro cantar no Rio, ainda mais nesta época de férias em que a cidade está repleta de turistas de outras cidades brasileiras. E me sinto plenamente realizada. Sou paga para fazer o que amo, viajo pelo mundo inteiro. Tenho um público fiel, faço uma média de 80 shows por ano, já cheguei a mais de 100 em alguns anos. Gravei e cantei com os meus maiores ídolos: Tom Jobim, Luiz Bonfá, Hermeto Pascoal, João Donato, Ron Carter, Edu Lobo, Martinho da Vila, Larry Coryell, John McLaughlin, Marcos Valle, Sadao Watanabe, Dave Brubeck, Claus Ogerman… Jamais sonhei que iria, um dia, obter um décimo do prestígio mundial que eu conquistei. Pelo segundo ano consecutivo, acabei de ser eleita a terceira melhor cantora na votação dos leitores da DownBeat, que é a “bíblia do jazz”. Há dez anos eu estou entre as dez melhores, não apenas na DownBeat mas também segundo várias outras revistas de jazz no mundo inteiro, então isso me deixa muito contente. O principal crítico dos EUA, Scott Yanow, me incluiu entre as melhores cantoras de todos os tempos, ao lado de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Betty Carter e Flora Purim, no novo livro dele, “The Jazz Singers”. Não posso nem dizer que é a realização de um sonho porque eu nunca imaginei que atingiria este patamar de reconhecimento.

 Em 2009, cantei no Rio durante todo o mês de janeiro. Comecei no Mistura Fina, lotadíssimo, com sessões extras, e continuei por mais três semanas de casa igualmente lotada no Bar do Tom. Depois fui pra Ásia, fiz três excursões pela Europa, fui gravar um outro disco nos Estados Unidos, enfim, muita coisa. No exterior, em 2009, foram 47 shows. No Brasil, 35, incluindo várias idas a São Paulo para shows no SESI, no circuito do SESC, no CCBB etc. Mas é normal mesmo que eu faça apenas uma temporada no Rio a cada ano. Ainda mais agora com a agenda cada vez mais lotada no exterior. Em fevereiro eu viajo para nova turnê na Europa, voltando ao Brasil apenas em abril, para shows em São Paulo, Brasília, Curitiba e outras cidades.

GFM:  Há alguma diferença entre o show que apresentará no Rio e os shows que costuma fazer fora do Brasil? Por exemplo Lulu Santos entra no repertório lá de fora?

IK:  O padrão de qualidade é o mesmo, assim como a minha entrega no palco. Faço cada show como se fosse o último. Esteja eu cantando em Londres, Paris, Gramado ou Ipatinga. Adoro surpreender o público e principalmente a mim mesma. Então só canto músicas que eu gosto. E são muitas, muitas! Eu poderia fazer 100 shows consecutivos sem repetir uma única canção, se fosse necessário. Tenho um repertório imenso, que inclui músicas que eu já gravei e outras tantas que eu nunca cantei em shows. No caso específico de “Aviso aos Navegantes”, que eu a-m-o, nunca cantei nem no exterior nem no Brasil. Mas certamente será mantida na parte internacional da “Bim Bom World Tour”.

GFM: O que você preparou que acha que vai surpreender o público carioca?

IK: Eu não faço show para agradar a crítica brasileira, até porque jamais conseguiria. Canto para agradar ao público. Amo ver e sentir a vibração da platéia se divertindo, cantando junto. Não sou uma esnobe, e muito menos uma pseudo-intelectual. Sou uma entertainer. No Bar do Tom levarei para o palco músicas que eu adoro cantar em casa, mas nunca havia interpretado “ao vivo”. Tenho uma lista de 50 músicas “inéditas na minha voz” e irei selecionando algumas a cada noite.

É um repertório variado, que vai desde “Smoke Gets In Your Eyes”, sucesso do grupo The Platters, até “Days of Wine and Roses”, do Henry Mancini. Quero também voltar a cantar “Got to Be Real”, “Never Can Say Goodbye” e “Human Nature”, gravada pelo Michael Jackson no “Thriller”, mas com uma pegada jazzística a la Miles Davis que eu já cantei nos meus shows nos anos 90. Mas, por favor, não me rotule de cantora eclética porque não faço covers. Todas as músicas são reprocessadas para o “estilo Ithamara Koorax” que me fez ser valorizada e tratada com respeito no mundo inteiro, exceto no Rio de Janeiro. 

Ithamara Koorax: sábado e domingo (2 e 3), às 22h. Temporada até 30/01, com shows sextas e sábados. Bar do Tom (Rua Adalberto Ferreira, 32, Leblon – 2274-4022). R$ 60 a R$ 80.

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