Se estiver em Sampa neste sábado, coloque no seu roteiro o lançamento de “Lóki”, de Paulo Henrique Fontenelle, sobre Arnaldo Baptista. Se não der para comparecer no evento, pelo menos tente comprar o DVD do documentário. Isso, claro, se você tiver algum apego à história dos Mutantes. É de chorar! Veja o flyer do evento e leia matérias relacionadas ao filme lançado em 2008:
Documentário foi ovacionado no Festival do Rio 2008
Festival de Miami consagra ‘Lóki’ como o melhor documentário brasileiro
Além de publicar livro, ex-Mutante Arnaldo Baptista pinta o quadro de sua vida em ‘Loki’, um filme produzido pelo Canal Brasil
Christina Fuscaldo
RIO – No ano em que Arnaldo Dias Baptista lança seu primeiro livro de ficção, “Rebelde entre os rebeldes” pela editora Rocco, Paulo Henrique Fontenelle conclui “Loki”, o filme que começou a rodar em 2004, antes mesmo de o músico topar se reunir novamente com o irmão, Sérgio Dias, para a volta dos Mutantes. A princípio, a idéia do diretor era fazer um apanhado da história de Arnaldo para o “Luz, câmera e canção”, programa de meia hora exibido pelo Canal Brasil. Mas, com tanta história para cortar, ou melhor, contar, ele decidiu investir em um longa-metragem e teve o apoio de Paulo Mendonça, diretor geral da emissora.
– O Arnaldo tinha acabado de lançar o disco “Lei it bed” quando fiz a entrevista para o “Luz, câmera e canção”. Foi meu primeiro contato com ele e fiquei fascinado. Na época, Sérgio Dias e Rita Lee não quiseram falar. Ela não falou mesmo, mas Sérgio depois voltou atrás e deu uma declaração pedindo desculpas a Arnaldo e dizendo que seu sonho era tocar de novo com ele. Eu e André Saddy (produtor do Canal Brasil e do filme) tivemos a idéia de estender o projeto e fazer o longa – conta Paulo Henrique, que acha que a exibição do programa pode ter influenciado na volta dos Mutantes: – Fica a dúvida, mas a filha do Sérgio disse que foi bastante proveitoso.
As cenas para o programa e para o filme foram rodadas de 2004 a 2007. Em 2005, Paulo, André e as câmeras assistiram ao retorno triunfal ao palco dos Mutantes, no Barbican Center, em Londres. O documentário, que depois de um certo ponto passou a contar com a co-produção de Isabella Monteiro, deve correr os principais festivais de cinema do país a partir de agosto. Ele mostra a trajetória do músico a partir de uma tela pintada por ele.
– A idéia é mostrar também a faceta pintor de Arnaldo. Para isso, pedimos que ele pintasse um quadro que representasse a vida dele. A história dele parece mentira: teve sucesso, perdeu o sucesso, se envolveu com drogas, sofreu acidente e sobreviveu, teve decepção amorosa… Ao longo do filme, Arnaldo vai preenchendo a tela e a gente vai contando histórias através de entrevistas com pessoas importantes na vida dele – diz Paulo Henrique.
Além de Sérgio Dias, o documentário traz declarações de Tom Zé, Lobão, Liminha, Sean Lennon (o filho de John Lennon que ama os Mutantes), Gilberto Gil, entre outros. Raridade, Lucinha, a esposa que acompanha Arnaldo desde que ele saiu do coma após a queda da janela de um hospital psiquiátrico em 1982, também falou às câmeras. Rita Lee não se arrependeu de ter se esquivado do assunto, mas mesmo assim a co-fundadora dos Mutantes ganhou menção, só que em forma de desenho.
– Arnaldo pinta uma moça loira e escreve no quadro: “Sinto muito”. É absolutamente emocionante. Todo mundo que vê o DVD, chora, porque ele desenha sua vida como se estivesse colocando um fechamento nisso – comenta Paulo Mendonça, fã dos Mutantes e um dos responsáveis pelo Canal Brasil hoje não ser cem por cento voltado para o cinema: – Minha geração é, sem dúvida, forjada na música dos Mutantes. Tenho 58 anos e compus com o Secos & Molhados. Minha ligação com música é enorme. Um canal brasileiro não ter música é uma loucura.
Além da música – não poderiam faltar hits como “Top, top, top” no documentário, né? -, das tintas e das declarações emocionantes, “Loki” mostra também um Arnaldo divertido, sorridente e feliz. Paulo Henrique Fontenelle é a prova carioca de que o músico paulista radicado em Juiz de Fora pode fazer qualquer um ir das lágrimas às gargalhadas em questão de minutos:
– Eu e André passamos duas semanas na Inglaterra acompanhando os ensaios e o show dos Mutantes. Um dia, estávamos filmando na feira de Camden Town, quando seis homens começaram a correr atrás de mim para roubar a câmera. André correu, ultrapassou os eles e começou a ser perseguido também. Aí, o Arnaldo começou a correr atrás dos caras, gritando muito, e eles se dispersaram. Quando voltei, ele falou: “Pude praticar o meu karatê”.
Paulo Henrique Fontenelle assinou a direção do filme “Mauro Shampoo, jogador cabeleireiro e homem”, vencedor do prêmio de Melhor Curta Metragem na Escolha do Público do Festival do Rio, em 2006.