Não deixe o sucesso subir à cabeça

Posted by Chris Fuscaldo Category: Dia a Dia Tag:

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Como muitos já sabem, tenho me aventurado no maravilhoso mundo da produção. Que, de maravilhoso, não tem nada, na verdade. Produzir a própria banda já é algo que dá trabalho e desgasta (venho experimentando isso há um ano). Produzir alguém que não tem a menor ideia do que significa este trabalho é pior ainda. Vivi ontem uma experiência digna de se comentar. Por um lado, é um desabafo meu. Por outro, vai servir como dica aos que estão começando ou àqueles que ainda precisam aprender muito sobre produção.

Antigamente, uma em cem bandas dava certo. Quando isso acontecia, ela pasava a ter todo o apoio financeiro e psicológico necessário. Dessa forma, os músicos acabavam não precisando fazer mais nada além de… tocar. Foi assim com, entre muitas outras, a Legião Urbana. Com a gravadora aos seus pés, fazendo tudo o que os músicos queriam, eles não precisavam se meter com material de divulgação, marcação de shows etc. Parecia bom, né? Mas os tempos mudaram…

O lado bom é que, hoje, todo mundo pode conseguir um espaço ao sol. O lado ruim é que, sem apoio de gravadora, o artista tem que se virar sozinho. Por escrever sobre música, ler e viver muitas dessas histórias (de gente pequena, grande, alternativo e até estrelas), tenho bastante noção de como se trabalhar uma banda (e sei como leva tempo, quando se é independente). É por isso que invisto eu mesma no ECT (Eu, Chris e Taís) – muitas vezes, claro, com dicas de amigos e/ou profissionais mais cascudos – e também na carreira de um colega, cantor e compositor de samba e MPB. Na verdade, na dele, eu investia…

Faz quase um ano que o conheço. No início, vinha dando dicas (cheguei a votar na escolha da ilustração que estaria na capa). Depois, passei a ajudá-lo nos textos do site, do MySpace e no release de divulgação do disco, que finalmente ficou pronto. Enviei para amigos jornalistas, que acabaram dando espaço para ele em seus veículos. Aproveitando a mídia, marquei seu primeiro show. Pausa para um detalhe: ele não sabia fazer nada disso sozinho. Voltando… Depois desse show, ele não fez nenhum outro. Pois bem. Recentemente, combinamos de marcar dobradinhas: quando ele tocasse, minha banda abriria e vice-versa. Vamos a outro parágrafo, para não cansar (desculpem-me, sou detalhista, às vezes).

Marquei um show do ECT (Eu, Chris e Taís) na Lapa, para julho. Convidei o rapaz em questão para abrir. Olha o que ele respondeu:

“O negócio é o seguinte: tenho um disco gravado (que tomou 4 anos da minha vida), com resenha de cotação máxima no Extra, resenha boa no Globo, lancei meu disco no Cinemathèque, entre outras coisas. Como é que você pode me convidar para abrir um show do ECT (Eu, Chris e Taís), fazendo voz e violão? Se você quer que eu faça como favor, eu faço, por tudo que você já me ajudou. Agora, não me faz de novo esse tipo de convite tentando me dizer que é um bom negócio em termos de produção porque eu vou ficar chateado com você, ok? E outra coisa. Minha carreira a partir de agora se dará da seguinte forma: eu só vou tocar em bons lugares, com som bom e banda completa. A casa que me diga quanto é que é, eu pago o aluguel e levo meu público. Agora vou ter salário para bancar minha carreira até que ela dê dinheiro. O resto do tempo estarei em casa ensaiando, que é o que tenho que fazer.”

Só para você entender duas passagens mal explicadas, leitor: ele acabou de ser promovido no trabalho e ele tinha o formato voz e violão como opção até uma semana atrás.

Enfim… Subiu à cabeça, né? O que eu vou fazer? Desistir dessa produção, já que ela nunca me rendeu grana. Eu fazia por amor à música e por carinho aos iniciantes… Mas, agora, ao contrário do moço aí, se me arriscar em uma nova produção, só quero trabalhar com iniciantes que não tenham o ego maior do que a própria música.

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