Esqueça o lado Winehouse de Peter Doherty e conheça ‘Grace / Wastelands’

doherty
Desde quando o Libertines se apresentou no TIM Festival, em 2004, tinha curiosidade sobre esse tal Peter Doherty. Por que Carl Barât insistia em dizer que a banda não tinha sentido sem o guitarrista? Por que mesmo depois de o cara assaltar seu apartamento, o vocalista ainda o tinha como seu maior parceiro? Entendi tudo ao ouvir “Grace / Wastelands”, disco solo de Doherty que acaba de ser lançado no Brasil pela EMI.

Imaginei escutar algo sem sentido, algo que tivesse a ver com o comportamento de Peter Doherty nos últimos cinco ou seis anos. Mas lembrei de Amy Winehouse… de como ela faz música boa quando não está na capa do “The Sun”, tablóide britânico que também adora explorar as histórias do ex-libertino… Decidi dar uma chance à bolachinha. No player do meu carro, “Grace / Wastelands” transferiu-me para diversos lugares e me deixou a sensação de que valeu a pena não me deixar levar pela aparência.

A primeira faixa, “Arcady”, na qual Doherty bebe descaradamente na fonte de Bob Dylan, lembrou-me uma viagem que fiz a Nashville quando tinha 17 anos. “Last of the English Roses” tem muito do que de bom tiveram os anos 80. Quando tocou a introdução de “1939 Returning”, senti-me no teatro onde apresentava anualmente (por 12 anos) o espetáculo de fim de ano do balé. Mas, logo após o trecho de música clássica, fui jogada num pub londrino (quem sabe o de Camdem onde o ex de Kate Moss costuma encontrar Winehouse em noites embaladas). 

“Broken Love Song” me levou de volta à época em que estava começando a ouvir falar na tal música “indie”. Com violino, cello e até tamborim,  “A Little Death Around the Eyes” parece feita para a trilha sonora de algum longa francês que assisti no Festival do Rio. Se tivesse Doherty cantando com uma cheia de firulas (ainda bem que não é assim), “Sweet By And By” seria perfeita para os filmes de Fred Astaire. Destaque para a participação da cantora escocesa Dot Allison em “Sheepskin Tearway” (assista o vídeo do Youtube), para o ex-guitarrista do Blur Graham Coxon, e para as pinturas do encarte, feitas por Peter.

“Grace / Wastelands” levou quatro estrelas no “The Guardian” (“O resultado não é perfeito, mas este é o primeiro álbum com o qual Doherty se envolveu desde o Libertines”). Aqui, ele leva cinco: *****.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Required fields are marked *.

You may use these HTML tags and attributes: <a href="" title=""> <abbr title=""> <acronym title=""> <b> <blockquote cite=""> <cite> <code> <del datetime=""> <em> <i> <q cite=""> <s> <strike> <strong>