Raça Negra embala festa do apê e no viaduto de São Cristóvão

Posted by Chris Fuscaldo Category: Dia a Dia Tag:
Raça Negra vista do viaduto

Raça Negra vista do viaduto

Esta semana, é o primeiro aniversário da assinatura do contrato de financiamento do meu apartamento. Quando cheguei no meu cantinho – que não é grande, mas tem espaço para muitos discos, livros e amigos – voltei a ver os canais abertos da televisão, coisa que não fazia há anos. Quando morava com meus pais, acessava o cabo e suas milhares de opções. No último apê, criei o hábito de só assistir às dezenas de DVDs que recebia semanalmente para escrever sobre. No novo (e meu) cafofo, aderi à antena coletiva que o condomínio disponibiliza. Uma espécie de parabólica que, da Rede Globo, capta o sinal de transmissão de sua programação nacional. O RJTV é substituído pelo Brasil TV e os comerciais são: os educativos produzidos pelo Canal Futura; os turísticos das afiliadas regionais da emissora; ou os publicitários da Som Livre, gravadora fundada em 1969 para comercializar as trilhas sonoras das novelas da TV, mas que hoje produz também artistas e bandas. Há um ano, quando me mudei, a bola da vez era o box com quatro CDs “Nossa História”, do Raça Negra.

Pois bem. No último sábado… ou melhor, na madrugada de domingo… exatamente na virada para o dia da celebração, a comemoração não podia ter sido mais adequada. Com meu namorado, que decorou comigo os trechos de hits que a propaganda mixava pela casa, fui parar no viaduto que liga a Linha Vermelha a São Cristóvão assistindo, sem pagar, ao show do grupo. Isso mesmo, do grupo Raça Negra.

Raça Negra vista do viaduto

Raça Negra vista do viaduto

Fazia tempos que vinha prometendo a ele, que não é do Rio, uma visita à feira de São Cristóvão, ou melhor, ao Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas. Seu amigo foi mais rápido e fez o convite para o show do Raça Negra, na feira. Mas eu – que fiquei entrevada por quatro dias depois de uma torcicolo que tomou meu braço direito quase todo e ainda terminei a semana no velório de uma pessoa muito querida – não conseguia cogitar a possibilidade de sair. Eis que o sábado foi chegando e eu, também já cansada de ficar trancada, isolada do mundo tecnológico e à base de chororôs, fui sendo convencida de que poderia ser divertido reviver aqueles clássicos que embalaram muitas festinhas da escola nos anos 90 e meus primeiros meses no apê. É, porque depois o Raça Negra sumiu e vieram as propagandas dos CDs/DVDs de Michel Teló, Gustavo Lima, Exaltasamba… No início da noite de sábado, decidimos ir.

Na chegada, uma decepção: o show não era na feira, mas no estacionamento e o ingresso não custava os R$ 3 que pagamos para entrar no Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas, mas R$ 30. Como o tal amigo não respondia aos telefonemas de Marco, começamos a achar que havíamos nos empolgado à toa e que não valia a pena pagar. Gastamos, então, seis reais para visitar, finalmente, as barracas, lojinhas, bares e restaurantes dos nordestinos radicados no Rio de Janeiro. Vimos a novela das oito provando a cachacinha do Carlos, dançamos um pouco de forró pé de serra em frente a um dos palcos alternativos (nos dois oficiais, o forró não é mais como o de antigamente) e cantamos “Sandra Rosa Madalena” (Sidney Magal) no “videoquê” assistidos por um grupo de amigos que, por coincidência, também estavam lá. Nos despedimos quando a energia caiu e a luz começou a piscar. Tchantchantchan! Na saída, ouvia-se perfeitamente “Cheia De Manias” com todos aqueles “S” que Luiz Carlos da Silva cantava com aquela linguinha presa que era seu charme.

Não tivemos dúvidas e corremos para ver se, de fora, dava para enxergar alguma coisa. O amigo de Marco havia mandado uma mensagem poucos minutos antes dizendo que estava no viaduto. Ou perto do viaduto. “Ou será em cima?”, perguntamos um ao outro. Será? Fomos nós para lá, subindo a pé no contra fluxo dos carros que vinham a toda. Só não me senti uma louca porque não éramos os únicos: havia uma fila de pessoas, que provavelmente se negaram a pagar para entrar. Todo mundo vibrou quando o vocalista chamou um outro no palco. Pô, a única coisa chata de assistir ao show de cima do viaduto é que, do outro lado, o eco acaba fazendo o som ficar embolado e, por isso, ficou impossível entender a parte falada. Ou seja, até agora não sei quem acompanhou a banda por uma ou duas músicas. É, não sei. Nesse momento, achamos melhor irmos embora. Eu já tinha me excedido e precisava descansar. Fora também estar cheia de medo de levar uma lambada de um motorista ubriaco que pudesse vir das bandas da Ilha do Governador.

O amigo de Marco estava, na verdade, embaixo do viaduto, dentro do estacionamento. Sim, ele pagou os R$ 30. Demos “tchauzinho” lá de cima e começamos a descer. Passamos por um casal que se debulhava em lágrimas. Que “reuniãozinha” em casa, que nada. Nós saímos de lá com a certeza de que foi a comemoração mais original, daquelas que nunca poderia imaginar. Viva o Raça Negra!

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