Do Rio para Berlim, uma carioca estrangeira no Rio

Hoje eu estou na versão online do jornal alemão Taz, com uma crônica do meu dia a dia na Olimpíada. Original (em português) abaixo:

Uma carioca estrangeira no Rio

Não há um dia em minha vida em que eu não me sinta uma estrangeira. Quando viajo para fora do Brasil, isso é normal. A cor da pele que destoa, o sotaque ao tentar a falar a língua do país entrega e, às vezes, até o jeito de andar mostra logo que aquele gingado não pode ser dali. Mas poucos entendem quando falo que sinto o mesmo em minha própria cidade. Viver intensamente os Jogos Olímpicos me fez chegar a uma conclusão: definitivamente, eu sou uma carioca-gringa.

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Nunca fui de ficar parada em um lugar só nem circular apenas nos bairros onde moro e trabalho. Desde que me entendo por “rebelde”, me meto em tudo quanto é canto da cidade. Talvez tenha sido por isso que escolhi ser Jornalista… De quando comecei a escrever para jornais e revistas para cá, conheci creio que 100 vezes mais ruas, bairros, cidades, estados e países do que conhecia antes. Em todos, eu não passo por nativa.

Talvez seja a cor da pele, muito branca. Talvez seja a cor dos olhos, verdes. Talvez seja o corte do cabelo, moderno. Talvez seja o estilo da roupa, casual. Talvez seja isso tudo junto… O fato é que é só eu sentar em um bar para os vendedores de balas virem para cima de mim ou é só andar sozinha pela rua para um pivete vir atrás, muitas vezes com o intuito de me assaltar.

Mas eu aprendi a lidar. Faz tempo que me viro bem. Aproximou de forma esquisita, ouve logo eu falar mais alto, mesclar palavras ditas com erros com gírias, de um jeito bem carioca: “Colé, mermão? Tá querendo o quê? Nada mermo? Então já é! Vaza aí pro seu lado que eu vazo aqui pro meu!” Normalmente, os caras perdem a coragem e não insistem. Na Rio 2016, não tem sido diferente. Pelo contrário, a “perseguição” está ainda mais intensa. Tanto os cariocas comuns quanto os que estão trabalhando na Olimpíada falam comigo em inglês, assim como os turistas com os quais esbarro no caminho para os jogos.

Esta semana mesmo, vivi uma situação ao pegar o famoso trem da Central do Brasil, que normalmente transporta uma média de 750 mil passageiros por dia, viajando por uma malha de 270 quilômetros e parando em 102 estações ao longo de 12 municípios da região metropolitana do Rio de Janeiro. A caminho do estádio olímpico Engenhão, vi um vendedor de biscoitos perguntar quem trocaria uma nota de R$ 10 por duas de R$ 5. Quando cruzamos o olhar, ele logo forçou um sotaque: “Cincou! Cincou!” Fui obrigada, então, a atuar: “Qual é, meu irmão? Sou carioca! E infelizmente só tenho uma nota de cinco. Se quiser, troco pela sua de dez!” Todos em volta riram muito da malandragem da branquela moderninha. O rapaz só conseguiu falar: “Pôxa, me dei mal! Essa é carioca mesmo!”

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