Sobre ritmo ou sobre como o carioca é acelerado

Posted by Chris Fuscaldo Category: Dia a Dia Tag: , ,

Pierre virou meu taxista cativo nas idas e vindas para o trabalho às 5h20 da manhã. Adotei Pierre porque ele acorda todo dia às 4h30 pilhadíssimo e me leva rapidão – mesmo correndo, na maior segurança (dirige como eu, confessei a ele) – num carro que nada tem a ver com esses da foto (meramente ilustrativa). O cara não chega virado após rodar a madrugada toda nem se opõe aos pedidos que faço em relação ao caminho. Pierre fala pra burro e me faz rir à beça, o que me ajuda (e muito!) a despertar. Pierre é o típico exemplo de que os fortes também amam. Negro, alto, forte, de voz grave e imponente, ele é um homem que se apaixona e que vive intensamente suas paixões. Hoje, Pierre me fez gargalhar durante todo o nosso longo percurso (pela primeira vez lamentei nossa viagem ter sido tão rápida) me contando de sua viagem a Campinas, onde mora sua namorada recente.

– Chris, quase infartei umas 3 vezes!

– Por que, Pierre?

– Por que cheguei aceleradíssimo… Assim com esse nosso jeito, né?… E o povo lá em outro tempo. Precisei ir ao banco e ela me sugeriu sair de casa às 15h45. Eu fiquei doido achando que não ia dar tempo. (Gargalhadas) Depois, fomos ao mercado e a mulher do caixa tentou passar o código de barras umas 5 vezes em vez de digitar o número e agilizar o processo. (Gargalhadas) Na hora de pagar, a mulher conferiu o troco umas 4 vezes! Falei: “Ah, não, filha! Dá aqui que eu confiro!” Chris, a namorada ficou brava comigo, a porrada estancou e eu, que viajei 500 quilômetros pra ver a gata, não peguei a mulher até domingo! (Gargalhadas) Acredita nisso?

– Não acredito!!!! Mas cara… Se liga na minha dica, Pierre: procure uma yoga, uma meditação ou experimente passar mais dias lá em Campinas com ela. Você precisa saber a hora de desacelerar.

– Mas você sabe?

– Aprendi na Argentina, quando morei lá. Eu sentava numa mesa de restaurante e o garçom levava uns 30 minutos para trazer o cardápio. Também desacelerei bastante durante a temporada que passei em Brasília. A primeira unha que fiz lá, mão é pé, levou 3 horas!!!

– Meu Deus! Eu não aguentaria…

– Pierre, esse ritmo nosso do Rio de Janeiro não está com nada! Olha, Você tá gostando da namorada?

– Pô, muito… Só fiquei bolado que ela acorda às 8h30!

– Pierre, ela que é feliz. Pense bem… Vale a pena infartar antes dos 50?

– Verdade! Você tem razão! Vou fazer o seguinte: vou pedir desculpas, sugerir que ela venha mais vezes só para me entender um pouco melhor e dizer que estou disposto a entrar no ritmo dela quando estiver lá.

– Boa, Pierre!

Pensei, mas não falei: “E juro que, quando te chamar pra me levar a algum canto que não seja às 6h, vou te ajudar, mostrando como eu sou quando não estou no ritmo do cotidiano carioca. Sabe quando um taxista consegue me ver assim? Quando estou a caminho do aeroporto!”

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