– Boa tarde! O senhor me leva no Flamengo?
– Boa tarde! Levo, sim.
Silêncio no táxi. Ele volta a falar:
– A senhora tem cara de professora…
E estala os dedos umas 5 vezes: “Tloc tloc tloc tloc”
– Ah é? O senhor acha? Deve ser porque eu estou me preparando para dar aulas em breve…
– A senhora viveu uma vida toda na Alemanha. É por isso que tem uma ligação muito forte com o Sul do Brasil…
Mais estalos: “Tloc tloc tloc tloc”
– Será que tem a ver com vidas passadas? Será que não é porque sou casada com uma pessoa do Sul?
– Não é só isso! A senhora adora o frio!
Ele larga a marcha para estalar: “Tloc tloc tloc tloc”
– Verdade, mas acho que o senhor tá falando isso porque sou branca demais.
– Na-na-ni-na-não… Eu estou vendo isso!
Ele gira a mão perto do volante enquanto estala: “Tloc tloc tloc tloc”
– O senhor é vidente?
– Médium… E a senhora também ém! Além de budista, é médium!
Agora, estalos menos sonoros: “Tloc tloc tloc tloc”
– De fato sou simpatizante do budismo, mas médium, eu? Para, moço, tenho medo de espíritos!
– A senhora tem que ter medo é de gente viva!
– Tenho também! Mas agora tô com medo do senhor, que sabe um monte de coisas sobre mim…
“Tloc tloc tloc tloc tloc tloc tloc tloc”
– Vou te dar um conselho: a senhora está chorando demais ultimamente. Pare de ser chorona, viu? Tudo bem colocar as coisas ruins para fora, mas sem pessimismo, afinal, quando uma porta se fecha, outras se abrem para você.
“Tloc tloc tloc Tloc tloc tloc tloc Tloc tloc tloc tloc”
– Obrigada, moço… Quanto deu a corrida mais a consulta?
– Só a corrida, moça… Vinte reais! E nunca se esqueça do que te falei!
* Fiquei paranoica depois de “Além do Tempo” (e durante a vida real): Será que esse homem que me guiou é um anjo, algum contato do Facebook que só conheço virtualmente ou um médium mesmo?