Fã de Chico César, acordeonista argentino Chango Spasiuk toca ritmo que influencia sertanejos

Sentado no meio do palco, com um manto cor-de-rosa cobrindo suas pernas e dando base ao seu acordeon, Chango Spasiuk abriu a noite da última sexta-feira (28/11) com uma bela canção estilo guarânia. Apresentando no Teatro Coliseo de Buenos Aires o Tierra colorada en el Teatro Colón, concerto gravado em CD/DVD este ano no Teatro Colón, o mestre argentino do chamamé emocionou uma plateia ávida por sua música já nesse primeiro número. Ele estava rodeado por uma pequena orquestra formada por três violões, um violino, um violoncelo, um baixo acústico.

Chango Spasiuk no Teatro Coliseo de Buenos Aires“Não é sempre que temos a oportunidade de tê-lo aqui em Buenos Aires, ainda mais acompanhado de tantos músicos bons. Eu já queria trazer meus pais para vê-lo há tempos”, comentou a fã Gabriela pouco antes do espetáculo começar, enquanto seu pai, um senhor portenho pra lá de animado, ensaiava uns passos de chamamé.

Chango Spasiuk é hoje um dos maiores representantes do ritmo, que é pouco divulgado no Brasil, mas inspira fortemente a música do Sul do nosso país e a sertaneja. Na América do Sul, Argentina e Paraguai brigam pela origem do chamamé, mas a maior parte dos historiadores acreditam que a criação se deu na província argentina de Corrientes a partir da fusão da cultura indígena local com a europeia, principalmente a do Leste Europeu. Chango Spasiuk nasceu na fronteira, em Misiones, e, neto de imigrantes ucranianos, sofreu muita influência da polca quando criança e de outros ritmos depois de mais maduro. No palco do Coliseo, era clara sua predisposição para passear por entre outros estilos. Já com um dos violonistas no cajón, explorando uma batida mais próxima da eletrônica, a segunda música do concerto parecia um tango moderno.

Chango Spasiuk no Teatro Coliseo de Buenos Aires 5Com um dos violonistas cantando, a terceira música do espetáculo poderia estar em uma roda de viola sertaneja qualquer do Brasil. Lembrou clássicos como Saudade da Minha Terra. A quarta canção abriu o bloco mais animado do concerto, com direito à plateia se derramando em palmas e gritos e muita vontade de levantar para dançar. Chango Spasiuk mostrou-se generoso ao abrir espaço para todos os instrumentistas mostrarem seu talento através de solos. E esbanjou humildade ao agradecer pela presença e discursar sobre o papel da música e, consequentemente, sobre o seu papel na cena cultural: “A serviço de que está a música? (…) Estou sempre refletindo sobre isso.”

Chango Spasiuk no Teatro Coliseo de Buenos Aires 3Após o show, no camarim, Chango provou ser humano ao convidar para um bom papo um menino chamado Tomás Romero (guarde esse nome e veja uma participação dele no show de Raúl Barboza, outro acordeonista), que estava na plateia com seu acordeon: “Quantos anos você tem? Oito? Eu comecei a tocar com dez. Você quer que eu autografe seu acordeon? Não prefere uma foto para nao estragar seu instrumento? Ah, você trouxe para isso? Tudo bem, então.”

Chango Spasiuk esteve no Brasil em 2012 para uma participação na Mimo (Mostra Internacional de Música em Olinda) e, apesar do desejo de conhecê-lo, só consegui desembarcar em Recife no dia seguinte de sua apresentação. A vontade surgiu novamente ao ler uma entrevista compartilhada no Facebook por Chico César em que o argentino dizia que um dia de férias perfeito seria em uma praia brasileira, assistindo a um show do paraibano.

Chango Spasiuk no Teatro Coliseo de Buenos Aires“Eu adoro Chico César. Tocamos juntos quando ele veio à Argentina e acho a música dele uma maravilha”, explicou-me Chango depois do show.

Nessa mesma matéria, vi que Chango estaria no Coliseo no mesmo fim de semana em que eu estaria em Buenos Aires. E que subiria ao palco acompanhado do violinista Rafael Gintoli e da Orquesta de Câmara Estação Buenos Aires. E assim foi a segunda parte do concerto, com mais um violoncelo e outros violinos.

Chango Spasiuk no Teatro Coliseo de Buenos Aires 4Do folclore ao tango, todo o repertório ganhou unidade. Os duelos (melhor dizermos duetos) de acordeon com violino (Chango Spasiuk e Rafael Gintoli) foram suaves. Um deles trouxe ao palco algo que adoro na Argentina: os beijinhos trocados entre homens. A despedida começou com um “saludo” ao público e um chamamé romântico e terminou com duas voltas de Chango, sendo a última delas sozinho, como que presenteando os fãs, a essa altura já na beira do palco “bailando el chamamé“.

 

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