Caetano Veloso abraça argentinos e brasileiros em Rosário

Posted by Chris Fuscaldo Category: Shows e eventos

Neste domingo, completou um mês que estou em Rosário (Argentina), fora de casa (meu Rio de Janeiro), dedicando-me aos dois projetos que elegi como principais nos últimos dois anos: meu mestrado (que me enviou para cá) e um livro (como muitos já sabem, a biografia de Zé Ramalho). Ambos tratam do mesmo assunto, o que tem feito com que eu me esforce bastante para não me tornar uma pessoa monotemática… Ainda bem que coisas como o GarotaFM, os frilas lindos que fiz (por exemplo, o programa Mulheres do Brasil, do Canal Bis) e meus amores me fizeram achar o equilíbrio perfeito para seguir “tocando em frente”. Mas ficar longe e isolada não é fácil. Afinal, aqui o tema é um só: a escrita. Não estamos na Ditadura (graças a Deus, os que fazem campanha para isso ainda não conseguiram trazê-la de volta), mas me sinto um pouco exilada. Eu vim para 3 meses de cursos específicos, para ser supervisionada por um especialista em biografias e, também, porque financeiramente está muito mais possível morar aqui do que no meu próprio país. Sinto muitas saudades dos meus amores e dos shows. Sinto um vazio quando vejo posts no Facebook de coisas muito legais que estou perdendo. E, claro, sinto um medo enorme de não dar conta dos meus objetivos (quem não se sente inseguro diante da pressão colocada em si mesmo?). Mas estou feliz por estar tentando, cheia de esperança e muito agradecida pelo Brasil ter enviando Caetano Veloso, um ex-exilado, para aliviar minha saudade.

Caetano Veloso / Foto de Lívia Lima

Caetano Veloso / Foto de Lívia Lima

Caetano veio mandar seu “abraçaço” no palco do City Center, uma casa de shows média (mais ou menos do tamanho do falecido Canecão) de Rosário, cidade da província de Santa Fé com cerca de 1,5 milhão de habitantes (acho que pelo menos um quinto deles, brasileiros, devido à grande quantidade de universidades que “nos” recebem). A plateia estava bem dividida entre argentinos e conterrâneos de Caê, entre pessoas legais e chatos de plantão. Enquanto eu e meu amigo cantávamos no nosso canto, nossos companheiros localizados do outro lado tiveram que ouvir um senhor mandando eles calarem a boca. Mas todos estavam ali para aproveitar ao máximo a rara visita de um hermano famoso.

As músicas do álbum Abraçaço (por exemplo, A Bossa Nova é Foda, Estou Triste e Um Comunista) ganharam menos coro. Já os sucessos (Eclipse Oculto e Você Não Entende Nada) levantaram as vozes e os sotaques (“Vôce nao está enténdendo nada do que eu dgigo…”, cantavam os “hablantes” do espanhol). Caetano arrasou no “castellano” (leia-se castejano) ao agradecer e dizer que não foi sua primeira vez na cidade de Messi e de Fito Paez: “No es mi primera vez, pero para algunos de ellos (referindo-se à banda), sí. Yo, más de una vez. Entonces es una alegria multiplicada.”

Nós, brasileiros, com uma argentina no show de Caê

Nós, brasileiros, com uma argentina no show de Caê

Caetano me deu um abraçaço quando entoou Baby, canção que não estava no repertório dos shows a que assisti no Rio e uma das minhas preferidas do seu repertório (e do dos Mutantes). E quase foi abraçado por toda a plateia quando abriu sua camisa, timidamente, na música De Noite na Cama. Pedro Sá foi muito aplaudido em seus solos, vários deles extremamente necessários para a música que Caê faz hoje em dia: o guitarrista se destacou na faixa que dá nome tanto ao disco quando ao show, Abraçaço. O anfitrião arrancou risos tímidos (bem menos assanhados do que os cariocas que já vi) ao formar, com as mãos, o desenho de uma vagina durante a interpretação de Homem. A apresentação de Tonada de Luna Llena, do álbum Fina Estampa, emocionou.

Caê voltou duas vezes para o bis após reconhecer o pedido típico da Argentina: em vez de palmas, de gritos de “bis” ou da cantoria daquela musiquinha que pegou (“Caetano, cadê você? Eu vim aqui só pra te ver”), os argentinos emendam vários “ô” em uma melodia gostosa. Caetano rememorou Nine Out of Ten, presenteou argentinos e brasileiros com Leãozinho, e levantou a energia com Luz de Tieta. Por fim, no segundo bis, cantou acompanhado da plateia Desde que o Samba é Samba.

Que venham mais dois meses de escrita. Quem sabe, durante esse período, o Brasil não me manda abraçaços de Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Chico Buarque, Alceu Valença ou Zé Ramalho?!

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