Os Lobos voltam a tocar mantendo a metamorfos


Os Lobos

Com Cornélio Melo

No segundo semestre deste ano, uma das mais importantes bandas da cena brasileira dos anos 60/70 e a mais cultuada de Niterói (RJ), Os Lobos volta à ativa para sair em turnê, comemorando o lançamento de uma coletânea pelo selo Discobertas, do jornalista e pesquisador Marcelo Fróes. O grupo já está ensaiando no estúdio do guitarrista, violonista e cantor Cássio Tucunduva, integrante da banda desde a primeira formação, em 1965. A formação atual traz Cássio (guitarras e voz), Antonio Quintella (voz e violão), Cristina Tucunduva (voz), Aluisio Benedetti (contrabaixo), Francesco Nizzardelli (bateria) e Danielli Espinoso (teclados). Os Lobos estão homenageando o baterista Luiz Sergio Pacheco, o Luizinho Batera, falecido recentemente. E a Rádio Oceânica FM, que fica no dial 105.9 e tem sua programação transmitida em tempo real também pelo site (clique para ouvir), vai apresentar um programa especial sobre Os Lobos nesta terça-feira (28/05), às 20h. O convidado vai ser Cássio Tucunduva que vai dar uma entrevista ilustrada com muita música.

Em entrevista ao portal GarotaFM, Cássio conta que aos nove anos decidiu ser músico. Formado em Comunicação (publicidade e propaganda) pela Universidade Federal Fluminense (UFF), ele também é Bacharel em música pela Unirio e mergulhou no rock em 1963, via Elvis Presley e Beatles, tocando guitarra. “Aos sete anos conheci Elvis através de minha irmã mais velha e não larguei mais o rock. Depois vieram Little Richard, Beatles e as guitarras”, conta.

Os Lobos no compacto de 1969Cássio Tucunduva começou a trabalhar com música profissionalmente aos 15 anos, quando tirou a carteira das Ordens do Músicos. Ele já tocava na primeira formação dos Lobos (1965) que, em 1969, gravou o single do sucesso “Fanny”, que era o lado B. No lado A, vinha “Cabine Classe A”. Ele lembra que, de 1965 a 1968, o grupo tocava em bailes por todo o Estado do Rio, começando, logicamente, pela Meca do rock fluminense, que era o Clube dos Pioneiros, no bairro Vital Brazil, em Niterói. A formação que gravou “Fanny”, produzida por Ed Lincon, tinha sete integrantes: Dalto (guitarra base e vocais), Fábio Motta (teclados), Antonio Quintella (na época Antonio Claudio, no vocal), Luiz Sergio Pacheco, o Luizinho Batera (bateria), Roberto Gomes (contrabaixo e vocal) e Cássio. Mas o marco zero da banda, em 1965, tinha José Antonio , Romero, Roberto e Cássio. “Fanny” foi gravada em quatro canais no estúdio Haras, na Lapa, no Rio, e lançada pela Saboya Discos. A música ficou em primeiro lugar durante meses em rádios como Tamoio, Globo, Mundial e foi muito tocada pelo lendário Big Boy.

“O Fábio Motta conhecia todo mundo nas rádios, o que abriu nossos caminhos. Nós queríamos que tocasse ‘Cabine Classe A’, que era o lado A do compacto, mas ‘Fanny’ conquistou todo mundo”, lembra Cássio.

No segundo semestre de 69, veio o segundo compacto, com mais uma mudança na formação do grupo, que sempre teve um pacto com a metamorfose. Dalto saiu e, no lado A do compacto, a banda gravou “Só Vejo Você”, uma composição de Cássio e de Fábio, e no Lado B ficou a canção “Cristina”. Mais uma vez, o sucesso. As músicas tocaram em todas as rádios e Os Lobos foram convidados para irem a TV inúmeras vezes. Em 1970, o grupo gravou o LP “Miragem”.

“A Top Tape comprou o nosso passe e deixamos a Saboya Discos”, conta Cássio.

Perguntamos se a banda ganhou dinheiro com discos e Cássio Tucunduva disse que não: “Com discos, não… Ganhávamos em bailes no Rio, Petrópolis, Friburgo e, logicamente, no nosso quintal, o clube Pioneiros, além do Regatas e do Clube Central. O padrão era tocarmos em torno de quatro horas por noite. Em dinheiro de hoje, cada integrante embolsava uma média de cinco mil reais por mês. Eu só me vestia em Copacabana (risos), usava os sapatos do Souza, roupa da Cash Box, cortava cabelo no Motinha, em Ipanema.”

O disco traz clássicos como “Santa Teresa” (de Luiz Carlos Sá), “Avenida Central” (de Paulinho Machado), “Carro Branco”, a sensacional “Miragem”, eleita a melhor pelo pessoal do underground e, mais recentemente fez parte da trilha sonora do filme “1972”, de Ana Maria Bahiana e José Emilio Rondeau. Foi o tema do casal protagonista do filme. “Esse primeiro LP confirmou que estávamos no caminho certo”, lembra o músico.

Até chegarem a seu primeiro LP, Os Lobos não abriram mão de sua clássica metamorfose. Cássio relembra que, do segundo compacto para o LP, saíram Fabio Mota e entrou Fred Vasconcellos nos teclados, um grande músico. Além de Dalto, Claudio Rabello e Chico Aguiar, os Lobos registram como compositores o próprio Cássio, Fábio Motta, Antonio Cláudio, Cristina e Fred Vasconcellos. “’Miragem’ é minha, do Fred e do Antonio”, comenta Cássio.

Capa do disco Miragem, de Os LobosOs Lobos foram convidados para tocar no revolucionário programa Som Livre Exportação, da TV Globo, que era conduzido por Ivan Lins. Tocaram também no Fantástico. Em 1970, o Brasil vivia o auge da repressão política, provocada principalmente pelo AI-5, assinado em dezembro de 1968. Apesar de terem que submeter suas letras à censura prévia e cumprir todos os rituais da ditadura, Cássio Tucunduva diz que “a banda não era muito ligada a política” e que ninguém os abordou para que participassem de algum movimento.

Em 1972, Os Lobos foram participar do Festival Internacional da Canção. Cássio conta que havia o Festival do Estado do Rio e o Antonio Quintella (Antonio Claudio) foi convidado pelo Chiquinho Aguiar para cantar “Aleluia, Aleluinha para Sete Cavaleiros”: “O Antonio mudou de nome mais uma vez (risos) e passou a se chamar Claudio Ornellas. Bom, eles ganharam o Festival do Estado do Rio e quem vencia aqui era automaticamente classificado para o Festival Internacional da Canção, que acontecia no Maracanãzinho. O Carlinhos Garcez era muito ligado a produção do Festival e soube que o Raul Seixas (executivo da gravadora CBS) ia se lançar como intérprete com ‘Let Me Sing’. Na verdade, o Raul tinha classificado duas músicas, e o Garcez conseguiu que Os Lobos interpretassem ‘Eu sou eu, Nicuri é o Diabo'”.

A Som Livre acabou contratando Os Lobos, que gravam “Nicuri” e também “Let Me Sing” e “O Pente”, uma música do grupo “O Peso” que não foi classificada no FIC. As gravações estão no disco do Festival e vão sair na edição especial histórica do selo Discobertas, no início do segundo semestre. “Como o Antonio saiu, convidamos o Dalto para voltar. Houve também mudança de baixista: saiu o Roberto e entrou o Bastos, que era do grupo Time Four e Ariovaldo Peninha passava a tocar percussão. E foi nessa formação que Dalto se deu bem. Mariozinho Rocha convidou-o para a Odeon onde ele gravou o primeiro sucesso, ‘Flash Back’ e ‘Leila Lee’ no lado B”, conta Cássio.

Depois do festival, Os Lobos deram uma parada. Foi quando Cássio Tucunduva voltou a tocar como músico de estúdio em discos de Sérgio Ricardo, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Tim Maia e muitos outros. “Em 1974, houve um convite para Os Lobos gravarem um compacto pela CBS, mas não consegui reunir a banda. Chamei, então, o Gilson (baterista), o Ítalo (baixista) e José Luiz Duarte (tecladista) e gravamos um compacto com ‘Você Precisa Acordar’, minha e do Fred, e ‘Jogo do Amor’, do Fred”, diz.

Cássio concorda que as sucessivas mudanças de integrantes acabaram interferindo diretamente no som dos Lobos: “O astral e o estilo mudaram, e o tipo de músicas também”. Em 1977, fizemos um cruzeiro de um mês até Manaus. Chamei o Dalto e o Sergio Nacif (tecladista).” Os Lobos não ficaram dois anos com os mesmos integrantes. Sempre saíam dois ou três até o final, em 1977: “Só voltamos em 1991 para gravar o LP na Niterói Discos (selo da Fundação de Arte de Niterói criado por Jorge Roberto Silveira, quando prefeito).” 

4 thoughts on “Os Lobos voltam a tocar mantendo a metamorfos

  1. VALEU CONÉLIO E LUIZ ANTONIO!
    A PRÓXIMA ENTREVISTA SERÁ COM TONY Q & THE ARARIBOIA BLUES BAND, TONY TEM MUITA COISA PARA DIZER, DÁ PARA ESCREVER UM LIVRO… ALIÁS O LUIZ ANTONIO MELLO ESTÁ SE PREPARANDO PARA ESCREVER UM LIVRO SOBRE SUA VIDA… UM GRANDE ABRAÇO À VOCES!

  2. Se me permitem uma correção, o nome do primeiro baterista d”Os Lobos é Homero Lara e não Romero como foi publicado.

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