Diretor de ‘A Era do Gelo 3’ fala sobre vida, carreira e ‘Rio’, seu novo projeto de animação

Posted by Chris Fuscaldo Category: Trabalhos

Intitulada “Animação É Com Ele”, a entrevista com Carlos Saldanha foi publicada na terceira edição da revista de cinema Movie (conheça), que chegou às bancas em dezembro. Aqui, leia a entrevista na íntegra.

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A animação nunca foi o forte do cinema brasileiro. Nenhum nome havia despontado no mercado nacional, quem dirá fora do país. Até o dia em que um carioca atravessou o tapete vermelho do Kodak Theatre. Carlos Saldanha foi receber com o Chris Wedge, diretor de “A Era do Gelo”, em 2003, o prêmio ao qual o filme estava indicado, Melhor Filme de Animação. Co-diretor do filme sobre um grupo de animais que, em plena Era Glacial, encontra uma criança perdida, saiu sem o troféu. E talvez por isso não tenha percebido que o sucesso já começava a bater em sua porta. Este carioca voltaria à cerimônia um ano depois, concorrendo novamente com o curta-metragem “Gone Nutty” e, em 2009, seria aclamado em seu país de origem pelo sucesso como diretor único dos dois longa-metragens da Twentieth Century Fox e do Blue Sky Studios seguintes ao que alçou ele à fama: “A Era do Gelo 2” e  “A Era do Gelo 3”. Durante o Festival do Rio, o diretor aproveitou a passagem pelo Rio de Janeiro para autografar cópias em Blu-Ray do terceiro filme da série.

“Nunca imaginei isso tudo, pois meus objetivos são de pouco em pouco. Fui para os Estados Unidos com o objetivo de aprender animação e , lá, aprendi animação. Depois, quis fazer um filme e fiz. O resto veio com o trabalho. Eu tracei uma linha para a minha vida: vou casar, ter filhos, trabalhar… sigo essa linha, que é simples e reta”, conta Saldanha.

Carlos Saldanha, hoje com 41, casou-se ainda no Brasil. Com Isabela, que lhe deu quatro filhos: Manuela (12), Sophia (8), Julia (1) e Rafael, de dois meses. O único menino nasceu no Rio, durante uma das três passagens anuais do diretor pela cidade. Foi aqui também que veio à luz a arara que Saldanha acaba de criar para sua próxima animação. “Rio”, que se passa na cidade natal do pai de Rafael, está em fase de produção e deve levar pelo menos dois anos para chegar aos cinemas.

Pode-se dizer que a história da arara tem a ver com a de Saldanha, só que ao contrário. Formado em Informática e apaixonado por desenho, Carlos Saldanha cansou do trabalho que exercia e, aos 21 anos, decidiu ir para Nova York da noite para o dia. A mulher trancou a faculdade de engenharia e foi junto. Pensas que ele se sentiu acuado ao ver que o mercado da animação era para gente grande e que a capital do mundo não era a cidade mais caliente que ele conheceu na vida? Que nada! Saldanha tirou de letra.

“Ah, eu adorei! Foi engraçado porque minha esposa falou assim: ‘Eu achava que você era feliz e, quando você chegou aqui, vi que você ficou mais feliz.’ Eu adorava trabalhar com computador, mas adorava mais ainda desenhar. Eu ficava naquela de querer fazer algo com desenho, mas também não queria largar o computador. Aí, fui para os Estados Unidos para ver se conseguia juntar as duas coisas. Vi que poderia fazer animação, comecei a trabalhar com isso e descobri que finalmente tinha um sonho.”

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Confira entrevista com Carlos Saldanha:

Quando saiu do Brasil, há 18 anos, você imaginou que voltaria autografando o DVD do maior fenômeno da história da animação no Brasil?

Nunca imaginei isso tudo, pois meus objetivos são de pouco em pouco. Fui para os Estados Unidos com o objetivo de aprender animação e , lá, aprendi animação. Depois, quis fazer um filme e fiz. O resto veio com o trabalho. Eu tracei uma linha para a minha vida: vou casar, ter filhos, trabalhar… sigo essa linha, que é simples e reta.

Como era sua vida antes de ir para os Estados Unidos e o que te fez jogar tudo para o alto e ir para lá?

Aqui no Brasil, trabalhei com informática. Me formei em ciência da computação. Mas eu adorava desenhar. Então, eu sempre ficava naquela de “pôxa, quero fazer alguma coisa com desenho”. Mas também não queria largar o computador. Foi aí que decidi ir para os Estados Unidos ver o que eu poderia fazer. A animação me atraiu muito. Comecei a trabalhar com isso e descobri que tinha um sonho.

Depois que se formou na School of Visual Arts, seu primeiro emprego foi com animação?

Assim que me formei, fui trabalhar na Blue Sky e não saí mais. Estou na lá o tempo que estou nos Estados Unidos praticamente. Sou fiel. Me casei e fui para os Estados Unidos. Aí, me casei com o país. Cheguei na faculdade e me casei com ela. E, depois, casei com a Blue Sky. Aí, veio ‘A Era do Gelo’ e eu casei de novo.

E sua esposa embarcou na sua?

A gente era noivo, eu estava trabalhando, tinha um emprego bom, ganhava um salário legal. A gente estava planejando casamento, aquela coisa toda. Aí, falei: ” Eu vou largar tudo e vou para os Estados Unidos. Vamos?” Ela falou: “Você tá maluco?” Eu falei: “Vamos? Vambora!” Ela trancou a faculdade de engenharia que fazia, na PUC, e fomos de mala e cuia. Eu com 21 anos e ela com, 20. Fomos para ficar três meses, mas foi dando certo. As coisas foram rolando, a gente foi ficando. Depois que me formei e consegui um trabalho, ela voltou a estudar. Fez matemática, trabalhou e foi muito bem-sucedida. Aí, quando a gente teve nosso segundo filho, ela largou tudo e foi ser dona de casa. E até hoje a profissão que ela mais ama é ser mãe. Temos quatro filhos.

O que você fez na Blue Sky até ser chamado para trabalhar com Chris Wedge em “A Era do Gelo”?

Quando comecei, a companhia era pequena. Fazíamos muita publicidade, e a gente buscava fazer comerciais de televisão com animação, para poder continuar fazendo o que gostava. Tive a oportunidade de dirigir e ganhei prêmios. Isso deu visibilidade para nosso trabalho. Começamos, então, a fazer uns filminhos aqui, outros ali. Chris Wedge, que era o fundador da companhia, foi convidado pela Fox a fazer “A Era do Gelo” e perguntou se eu queria ser o diretor. Falei: “Eu topo! É o nosso sonho! Vambora!” A equipe toda trabalhou no filme e foi aquele sucesso. Fizemos “Robôs” (2005) logo depois e, durante o processo, a Fox perguntou se eu faria “A Era do Gelo 2” sozinho, já que o Chris queria descansar depois de dois longas.

Todos os filmes da série foram um sucesso, mas “A Era do Gelo 3”, em particular, foi um estouro, né?

No Brasil, “A Era do Gelo 3” é o filme mais visto da história do cinema. Em trinta países, ele foi o filme do ano. Internacionalmente, ele só perdeu para “Titanic” e “O Senhor dos Anéis”.  O filme já fez mais de US$ 880 milhões no mundo todo.

E, agora, suas forças estão voltadas para um filme que leva o nome da cidade onde você nasceu…

Se Deus quiser, agora é Rio! O nome do filme é “Rio”.

Conte sobre esse projeto.
 
 Não posso contar.

Ah, nem um pouquinho?

Não.

Mas é animação?

É a historia de um pássaro brasileiro… uma arara… que foi criada nos Estados Unidos e vem pro Rio de Janeiro como um gringo. Só que, aqui, descobre sua brasilidade através da música, do visual, dos amigos… de tudo.

É o Zé Carioca?

Não! É melhor que o Zé Carioca!

E o Carlos Saldanha que volta ao Rio.. qual é a diferença entre ele e aquele que saiu daqui há 18 anos?

Está bem mais velho, né?!

Mas você se realizou? O que mudou?

Ganhei mais confiança em mim mesmo e mais felicidade no sentido de ter construído coisas que dão orgulho, que me dão inspiração para continuar. Construí minha família, minha vida profissional. Fico feliz e sei que dou orgulho a meus filhos. Acho que o Carlos de hoje é isso. É um Carlos mais realizado emocionalmente, talvez até mais do que profissionalmente. Hoje, para mim, se eu e minha família tivermos e pudermos resolver os problemas juntos, é o que eu quero. O resto, tá bom.

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Carlos Saldanha em números:

41 anos
18 anos fora do Brasil
4 filhos

Investimento:
“A Era do Gelo”: aproximadamente US$ 70 milhões
“A Era do Gelo 2”: aproximadamente US$ 90 milhões
“A Era do Gelo 3”: aproximadamente US$ 100 milhões

– “A Era do Gelo 2” foi o filme de animação mais lucrativo de 2006 e um dos mais lucrativos da história da Fox.

– Retorno “A Era do Gelo 3”: Mais de US$ 880 milhões no mundo todo.

Bilheteria e público no Brasil:
“A Era do Gelo”: R$ 13,3 e 2,5 de espectadores
“A Era do Gelo 2”: R$ 42,8 e 5,8 de espectadores
“A Era do Gelo 3”: R$ 81,8 e 9,2 de espectadores

Tecnologia e incentivo à animação:

Do primeiro “A Era do Gelo” para o segundo, mudou a tecnologia: “Eu desenhava no papel e, se não dava certo, jogava tudo fora. Fazia a mesma cena umas trezentas vezes. Agora, é tudo digital. Mas ainda tem quem faça a lápis. Não me meto nisso, não. Deixo cada um escolher sua ferramenta e espero só um resultado legal. Desenvolvo a idéia e vários artistas desenham, cada um a sua maneira. Meto a mão na massa ajudando eles, solucionando problemas, desbloqueando idéias. Meu trabalho é de diretor, psicólogo, amigo, tudo”, explica.

Para Carlos Saldanha, só falta o Brasil conquistar seu lugar na animação: “Não dá para comparar aos Estados Unidos porque são realidades diferentes, mas a animação evoluiu muito da época em que saí do país. Mas ainda tem muito espaço para crescer e meu objetivo, no futuro, é ajudar essa indústria a crescer. No momento, posso ajudar de lá. Mas o futuro a Deus pertence. Se houver oportunidade aqui também, até estou disposto a voltar.”

Outros filmes para os quais trabalhou:

“The Adventures of Korky, the Corkscrew” (1992)
“Time For Love” (1993)
 “Joe e as Baratas” (1996)
 “Um Passe de Mágica” (1997)
“Clube da Luta” (1999)

Prêmios:

“Big Deal”, anúncio da Bell Atlantic, ganhou vários prêmios, entre eles um Bronze Clio, em 1997. Em 1999, ganhou um Gold Clio pela animação de “Re-Incarnated”, comercial da cerveja Tennents para a campanha da Copa do Mundo de 1998 na Europa. “A Era do Gelo” foi indicado ao Oscar em 2003. “Gone Nutty” foi indicado ao Oscar em 2004.

Veja vídeo exclusivo com Carlos Saldanha falando sobre sua passagem pelo Rio:

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2 thoughts on “Diretor de ‘A Era do Gelo 3’ fala sobre vida, carreira e ‘Rio’, seu novo projeto de animação

  1. Carlos Saldanha se formou aqui no Brasil em Artes Visuais??…Estou querendo muito trabalhar com animação, desde criança sempre sonhei com essa oportunidade.

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